Autoconhecimento,  Blog Zen

Clique pra dentro: 7 dias sem Instagram (parte #2)

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Por Flávia Cadinelli

Na prática, como a gente se sente atualmente quando dá um tempo em uma rede social tão presente (no meu caso), como o Instagram? Bom, iniciei essa trilha, esse click pra dentro com você na Parte 1 do texto – se você não leu, dá uma passada nele para se contextualizar das minhas motivações internas para a pausa.

Meu estalo foi, então: preciso tirar os excessos. Preciso me afastar das vozes dos sonhos externos, das vozes das comparações, das vozes dos desejos – que tantas vezes não são meus. Preciso me reconectar com a minha fonte.

Sou meditadora há mais de dez anos – e há dois e meio ensino Meditação Urbana no Movimento Zen. Talvez você seja um dos nossos alunos, participante das nossas iniciativas para a paz que cabe na rotina, e sabe o quanto prezo pelo “caminho do meio” na jornada. Sair dos extremos, do excesso ou da falta, para encontrar o próprio centro, a leveza, o fluir.

Fiz esse adendo para que você observe que a tendência às influências externas é para todos. Estamos imersos em uma cultura extremamente social, o que por um lado é gostoso demais. Mas, até nós meditadores, que cultivamos momentos frequentes de silêncio, práticas e rotinas do zen, temos momentos que precisamos nos reencontrar na essência. Imagina só quem, por tempos, anos, não presta atenção no simples respirar e segue no piloto automático? 

Então saí, temporariamente: tirei o aplicativo de vista. Tenho como hábito terapêutico a escrita, no caderno, à lápis. E fui relatando sensações e percepções desse experimento de 7 dias de limpeza da mente, pelo menos dos estímulos do Instagram. Ainda há tantos, mas foi realmente impactante o que compreendi do meu próprio sistema.

Seguem destaques do stories da vida

“Já comecei mais leve! O dedo automático já ia passar do whatsapp pra ele  por puro hábito.” (no caderno)

Essa questão do automatismo do corpo foi assustador! Na formação em PNL (Programação Neuro-Linguística) aprendi tanto sobre o poder da repetição. É real. Como usar uma escova de dentes sem a pasta – oi? Algo falta no ciclo do hábito. Várias vezes, após responder mensagens no whatsapp, senti por segundos uma sensação de “perdida”, “pra onde vou agora mesmo?”. Cheguei no primeiro dia a abrir mais meu e-mail, por pura programação do cérebro de que há mais ações mecânicas “a serem feitas aqui”.

Conforme eu fui ganhando consciência do hábito, ao encerrar a atividade atual no celular, respirei e com total atenção parti para mais experiências offline. Só assim foi possível não substituir o aplicativo do Instagram pelo Gmail, LinkedIn. Consciência, e adeus piloto automático.

“A imagem da timeline circula na minha mente, sensação de repetição, de que tudo será igual sempre.” (no caderno)

Falando em repetição, foi incrível perceber quantos padrões existem ali na timeline, não só do formato, cores e disposição de elementos visuais, como de conteúdo.

Existe um fenômeno chamado FOMO: Fear Of Missing Out. Sabe no passado quando se falava: “se não passou no Jornal Nacional, não aconteceu?”. Sim, no início da minha faculdade, em 2009, isso era realidade ainda. Comecei nessa época, além da presença no Orkut, a navegar timidamente no Twitter, que passou a pautar muito as conversas, até hoje. 

Temos uma sensação, das mais leves às mais agudas – não dá pra generalizar a intensidade – de que estamos por fora dos acontecimentos do mundo quando estamos afastados do online. Em pandemia então, que tantas pessoas têm a internet como única companhia, e trabalhos passaram 100% pras telas, o FOMO deve ter dobrado, junto com as crises de ansiedade, bruxismo, tensões musculares etc.

A tranquilidade de saber que não sabe

Aí fiz um exercício mental interessante: o que as pessoas devem estar postando agora? E as marcas? E eu, o que estaria compartilhando? Ri internamente, lembrando dos meus padrões e dos perfis que me cercam. Raramente mudam. Quando algo brusco acontece, pode crer que a informação chega pra você em outros meios. Seja “boa” ou “ruim”, alguém da sua rede viu, alguém em algum momento vai comentar.

Há um tempo ando perdendo a necessidade de saber muito. Adoro quando me contam uma notícia local, nacional ou mundial e digo, honestamente: “ó, não vi, me conta?”. Vem um resumo breve, o lead do jornalismo: o que, quem, quando, onde, porque. 

Pronto, agora já sei e não ocupei minha tela mental com imagens, o que mestres zen chamam de “impressões”. São tantas acumuladas em um dia – vide nossos sonhos enquanto dormimos, fazendo conexões por vezes a imagens que passaram “despercebidas” pelo nosso dia.

Tudo que a gente nutre, cresce. E isso vale para conteúdo em som, imagem, palavras. Como estamos nutrindo nossa mente? Como estamos alimentando nosso sistema? 

Enfim, o FOMO foi passando. Sabia que pouquíssimo fugiria da linha editorial. Para me atualizar de forma diferente, assisti ao Saia Justa (GNT). As pautas de discussão da semana estavam lá, assim como as pessoas mais presentes na minha vida se mantiveram presentes.

Profundidade nas conversas: como anda a sua?

Foi super interessante gerenciar só o whatsapp por uma semana. Minha concentração aumentou, não o tempo de uso. Dei uma limpa no aplicativo, e conversei melhor com as pessoas. Ao invés de dois cliques em uma foto, recebi frases mais profundas, risadas autênticas por áudio, lembranças. 

Lembrei de pessoas pela minha mente,  bateu saudade, não por tê-las visto na timeline. Deu tempo de pensar nelas, mandei mensagem. Mandei mensagem pra aniversariante com calma. Nesse tipo de interação há uma ação: você não está vendo a pessoa na palma da mão, você vai até ela. Real importância. E escovei meus gatos. Comecei a ler um livro de mantras. Montei oito novos japamalas, exercitando minha criatividade no artesanato.

Em alguns momentos, estava vendo uma cena, aos meus olhos, tão linda – seja pela composição de tons, objetos, que tive o ímpeto de postar nos stories. Ri pra mim mesma! Guardei o momento só comigo. E refleti: o quanto de inspiração real as pessoas compartilham pro mundo e o quanto é apenas auto afirmação de que “estou vivendo e aproveitando”? 

Como se “não foi postado, não aconteceu”? Invertemos já, há tempos, a lógica da própria fotografia, ao meu ver. O intuito original: estou vivendo uma experiência tão incrível (e pode ser, na verdade, algo super simples – e incrível) que a câmera me ajuda a eternizar esse momento para que, de alguma forma, quando eu rever essa foto, eu possa sentir pelo menos um pouquinho disso de novo.

Passamos a colocar a tecnologia no centro da experiência. Tenho encontros com algumas amigas que são tão bons que uma prova é sempre quando depois falamos: “ó, esquecemos de tirar foto!”. Às vezes rola foto, e tudo bem! Eu gosto também. Não estou julgando o culto à imagem, mas observando o quanto desenvolvemos o hábito de fotografar como prova de existência – e por tantas vezes, postar.

O poder de escolha

Fiz menos bagunça na casa, cozinhei com mais paz. O foco aumentou, claro. Início-meio-fim de atividades. Resgatei o poder de escolha do que me nutre“Eu posso ESCOLHER buscar o que preciso no momento, pontualmente: um presente, um caminho profissional? Busco! Ao invés de estar aberta a mil estímulos. Organizando melhor o que quero e preciso”, escrevi no meu caderno.

Reforcei sobre o profissional, pois como contei na parte 1, o excesso de “dicas quentes” que chegam pra mim sobre empreendedorismo, marketing e produtos, estava me cansando e me confundindo. Nos dias de pausa, tive insights de dentro: sempre falo que autoconhecimento é mais acesso que busca. As respostas estão dentro de nós, precisamos é limpar o nevoeiro.

As buscas fazem parte, mas como disse, de forma pontual e focada. Estar à mercê do que vem nos torna passivos diante da jornada. Ao silenciar essas fontes de informação, acessei a fonte mais legítima, a minha. Sou eu que criei o negócio, ele tem minha essência. Sou eu e a equipe que conversamos, de alma pra alma, com as pessoas que compram e participam do que oferecemos. Somos nós que damos vida a ideias, que fazemos cálculos, que sorrimos e choramos. 

Só você acessa os seus sonhos mais íntimos. Os seus momentos de maior gratidão. Quando algo de fora (de pessoas que nem compartilham a vida com você) te aponta um “tem que”, “é melhor”, “precisa”, “todo”, “nenhum”, esse algo está violando a sua conexão com os seus instintos, seus aprendizados evolutivos, sua expansão - pra dentro.
Flávia Cadinelli
Educadora

O meu clique pra dentro precisou passar pelo desclique de fora. Perdi algumas muitas imagens de viagens, crianças (fofas, sim), memes e conteúdos. Ganhei tempo, respiração, auto observação. Estava mais viciada do que imaginava. Vício é navegar no excesso – e pegar sem foco e direcionamento o celular para só “ver”, “rolar”, pra mim beira o excesso sim. Da necessidade de pertencer. Da fuga do momento de tédio, do real. Do sentir.

Enfim, após 7 dias voltei, e assim estava meu perfil pessoal: 14 Directs; 07 comentários, 02 menções; 70 curtidas (da foto de “pausa” do Instagram)

Pelo menos fui recebida com foto linda de mãe

Nada urgente, claro. Foi como nossos bichinhos de estimação: sairmos por cinco minutos ou horas, pra eles é quase o mesmo. O tempo ali não foi palpável, abstração total. Meu marido, a pessoa que mais convive comigo, me percebeu com menos momentos de tristeza. Sou uma pessoa essencialmente alegre, e o meu amor percebeu que vivi ainda mais a minha vida. Dei mais atenção, olho no olho, valorizei mais as coisas pequenas.

Interessante que o “mais” geralmente ganha mais espaço no nosso interesse. Por aqui, o “menos” foi a pauta. Assim como meu livro de cabeceira, Essencialismo, assim como os documentários do Minimalismo (Netflix), aqui o espaço em branco ganhou mais brilho.

A tpm acabou. A lua veio. Com ela, as frustrações, incertezas e também as belezas desse desaguar. Me sinto novamente conectada em mim, recolhendo meus ossos (citando Mulheres que Correm com Lobos).

O da coragem de ir e vir.

O da autenticidade sobre minhas rotinas.

O da liberdade de criar e atuar no profissional como acredito.

O de Amar, curtir o Agora com simplicidade.

O de relações mais profundas.

O de acolher meu espelho, minhas fases.

O de menos, que de algum forma sempre habitou em mim e eu achava que “certo” era o grito externo. Era o meu sussurro sim.

Há tanta vida aqui fora. Páginas e autores pra desbravar.

Chãos pra pisar. Cabelos para acariciar.

Voltei pro Instagram sem vontade de permanecer muito. Visitas pontuais para fins práticos. Vou encontrar minha forma de atuar e espaçar. Deletar regras que não me preenchem. SER.

Que seja mais leve, seletivo, pontual: meio para inspirar, chamar junto para algo maior, que conecta almas.

Sigo experimentando. E você? Como está essa relação com as redes sociais?

 

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Um comentário

  • Ana Cristina Bezerra

    Que experiência linda, Flavinha! Quantos aprendizados. 🙂
    E termino de ler seu texto inspirada a buscar por aqui também a minha forma de servir nesses espaços.
    Gratidão por compartilhar suas reflexões.

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